quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Desculpem, amigos, não mereciam

     Aos elegantes amigos que sempre fizeram a bondade de acompanhar nossas apagadas linhas pedimos desculpas pela ausência. Foram duas postagens em julho e nenhuma em agosto. Tivemos problemas (dos quais tiramos lições e aprendizados - repararão que voltamos mais simples e humildes, as lições foram duras e os aprendizados nos fizeram mais humanos). Mas como íamos dizendo, tivemos problemas, que, agora solucionados, nos lançam de novo à convivência dos amigos, como já disse, bondosos e elegantes. Graças a Deus, aliás.

     Ainda contamos sobre nossas experiências. É só o fôlego voltar.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Sacou?

Lembrando Rui




"De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto".

RUI BARBOSA

terça-feira, 28 de junho de 2011

Parabéns Liu Wenxiu




     "Beijo de desconhecida evita que jovem chinês cometa suicídio

     Os moradores da cidade de Shenzhen, na China, viram um ato heróico e muito bonito no último dia 20. A chinesa Liu Wenxiu, de 19 anos, conseguiu salvar um menino de 16 anos, que queria se jogar de uma passarela, com um beijo na boca. Liu estava passando pelo local quando se deparou com o drama do adolescente, que estava pendurado na passarela com uma faca na mão. Ela conseguiu se aproximar dizendo à polícia que era namorada dele e a razão pela qual ele queria se matar.

...”

Yahoo! Brasil, 28/06/2011

Veja na íntegra:

     A antítese do ser humano sintético é o ser humano que sente. Uma menina deu um beijo para evitar um suicídio. É o ser humano que se importa, que se envolve. É o ser humano corajoso, que age, que se posiciona.

     Em um momento trevoso como este atual, em que as criaturas humanas se comportam de maneira egoística, competitiva e indiferente, um feito desse (que seria comum em outros tempos) destaca-se por nos lembrar algo dentro de nós que vai se perdendo. O que era para ser um ato comum de um ser humano saudável transforma-se em um ato “heróico e muito bonito”.

     Alguém que aja com desinteresse, que coloque ideais acima de interesses mesquinhos, fica cada vez mais excêntrico, mais exótico, em um momento em que a ditadura da mediocridade – que força uma conduta rasa, fútil, leviana – toma conta das mentes.

     A preocupação é com o novo modelo de celular, não com o outro ser humano.

     Tem explicação. É a mesma história de sempre. Neoliberalismo – alienação - consumismo desenfreado – valores (morais) no lixo – valores (materiais) em primeiro lugar - nihilismo...

     Tem alguém lucrando com isso. O problema é até quando o mundo agüenta.

sábado, 25 de junho de 2011

Modelo cubano de alfabetização erradicou analfabetismo na Venezuela

"21/02/2006 - 12h08
 
Irene Lôbo

Repórter da Agência Brasil

Brasília – No ano passado, a Venezuela foi declarada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) país livre do analfabetismo. O método de alfabetização utilizado, cubano, será agora testado no Brasil em um programa-piloto no Piauí. O modelo já é usado em 17 países, entre eles Haiti, Argentina, México, Nicarágua, Bolívia, Equador e República Dominicana. Em todos esses países, já foram alfabetizadas cerca de 1,5 milhão de pessoas."

Veja na íntegra:

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2006-02-21/modelo-cubano-de-alfabetizacao-erradicou-analfabetismo-na-venezuela

Coisa de governos socialistas.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Crise neoliberal e sofrimento humano (Leonardo Boff)


     Só para lembrar aos amigos, que fazem a bondade de acompanhar este blog, enfatizamos que quando o texto não for de nossa apagada autoria nós o colocamos entre aspas e citamos o autor. É que pensamos em trazer para este espaço os grandes (estes sim) pensadores que revelaram e revelam a realidade que se esconde por trás do fato comum. Gente como Leonardo Boff, Frei Betto, Fausto Wolff, Bertold Brecht, Zygmunt Bauman, José Saramago,  entre outros. Digo "estes sim" porque vivemos tempos trevosos de Paulo Coelho e Harry Porter.

     “O balanço que faço de 2010 vai ser diferente. Enfatizo um dado pouco referido nas análises: o imenso sofrimento humano, a desestruturação subjetiva especialmente dos assalariados, devido à reorganização econômico-financeira mundial.

     Há muito que se operou a "grande transformação"(Polaniy), colocando a economia como o eixo articulador de toda a vida social, subordinando a política e anulando a ética. Quando a economia entra em crise, como sucede atualmente, tudo é sacrificado para salvá-la. Penalisa-se toda a sociedade como na Grécia, na Irlanda, em Portugal, na Espanha e mesmo dos USA em nome do saneamento da economia. O que deveria ser meio, transforma-se num fim em si mesmo.

     Colocado em situação de crise, o sistema neoliberal tende a radicalizar sua lógica e a explorar mais ainda a força de trabalho. Ao invés de mudar de rumo, faz mais do mesmo, colocando pesada cruz sobre as costas dos trabalhadores. Não se trata daquilo relativamente já estudado do "assédio moral", vale dizer, das humilhações persistentes e prolongadas de trabalhadores e trabalhadoras para subordiná-los, amedrontá-los e, por fim, levá-los a deixar o trabalho. O sofrimento agora é mais generalizado e difuso afetando, ora mais ora menos, o conjunto dos países centrais. Trata-se de uma espécie de "mal-estar da globalização" em processo de erosão humanística.

     Ele se expressa por grave depressão coletiva, destruição do horizonte da esperança, perda da alegria de viver, vontade de sumir do mapa e até, em muitos, de tirar a própria vida. Por causa da crise, as empresas e seus gestores levam a competitividade até a um limite extremo, estipulam metas quase inalcançáveis, infundindo nos trabalhadores, angústias, medo e, não raro, síndrome de pânico. Cobra-se tudo deles: entrega incondicional e plena disponibilidade, dilacerando sua subjetividade e destruindo as relações familiares. Estima-se que no Brasil cerca de 15 milhões de pessoas sofram este tipo de depressão, ligada às sobrecargas do trabalho.

     A pesquisadora Margarida Barreto, médica especialista em saúde do trabalho, observou que no ano passado, numa pequisa ouvindo 400 pessoas, que cerca de um quarto delas teve idéias suicidas por causa da excessiva cobrança no trabalho. Continua ela: "é preciso ver a tentativa de tirar a própria vida como uma grande denúncia às condições de trabalho impostas pelo neoliberalismo nas últimas décadas". Especialmente são afetados os bancários do setor financeiro, altamente especulativo e orientado para a maximalização dos lucros. Uma pesquisa de 2009 feita pelo professor Marcelo Augusto Finazzi Santos, da Universidade de Brasília, apurou que entre 1996 a 2005, a cada 20 dias, um bancário se suicidava, por causa das pressões por metas, excesso de tarefas e pavor do desemprego. Os gestores atuais mostram-se insensíveis ao sofrimento de seus funcionários, acrescentando-lhes ainda mais sofrimento.

     A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de três mil pessoas se suicidam diariamente, muitas delas por causa da abusiva pressão do trabalho. O Le Monde Diplomatique de novembro do corrente ano, denunciou que entre os motivos das greves de outubro na França, se achava também o protesto contra o acelerado ritmo de trabalho imposto pelas fábricas causando nervosismo, irritabilidade e ansiedade. Relançou-se a frase de 1968 que rezava:"metrô, trabalho, cama", atualizando-a agora como "metrô, trabalho, túmulo". Quer dizer, doenças letais ou o suicídio como efeito da superexploração capitalista.

     Nas análises que se fazem da atual crise, importa incorporar este dado perverso que é o oceano de sofrimento que está sendo imposto à população, sobretudo, aos pobres, no propósito de salvar o sistema econômico, controlado por poucas forças, extremamente fortes, mas desumanas e sem piedade. Uma razão a mais para superá-lo historicamente, além de condená-lo moralmente. Nessa direção caminha a consciência ética da humanidade, bem representada nas várias realizações do Forum Social Mundial entre outras.”

Leonardo Boff é autor de Proteger a Terra-Cuidar da vida: como evitar o fim do mundo, Record 2010

domingo, 19 de junho de 2011

Muito além do cidadão Kane

Documentário inglês, proibido no Brasil, que revela a história de como a mídia brasileira serviu aos interesses da classe dominante brasileira, que por sua vez sempre serviu aos interesses do capital internacional (não sobrou ninguém para ver quais eram os interesses do povo brasileiro) para emburrecer o povo brasileiro - e com isso implantar e manter um sistema neoliberal sem questionamentos nem resistências.

Este é aquele filme que a classe dominante brasileira conseguiu com que nunca fosse exibido para o público brasileiro.

Empurraram goela abaixo do povo brasileiro toda sorte de mediocridade subcultural para que mais facilmente se pudesse manipulá-lo como massa impensante. Alienou-se para mais explorar. É triste reconhecer - o plano deu certo.

"Além do Cidadão Kane é um documentário produzido pela BBC de Londres - proibido no Brasil desde a estréia, em 1993, por decisão judicial - que trata das relações sombrias entre a Rede Globo de Televisão, na pessoa de Roberto Marinho, com o cenário político brasileiro. - Os cortes e manipulações efetuados na edição do último debate entre Luiz Inácio da Silva e Fernando Collor de Mello, que influenciaram a eleição de 1989. - Apoio a ditadura militar e censura a artistas, como Chico Buarque que por anos foi proibido de ter seu nome divulgado na emissora. - Criação de mitos culturalmente questionáveis, veiculação de notícias frívolas e alienação humana. - Depoimentos de Leonel Brizola, Chico Buarque, Washington Olivetto, entre outros jornalistas, historiadores e estudiosos da sociedade brasileira. "Todo brasileiro deveria ver Além do Cidadão Kane":  Veja o filme:

http://www.youtube.com/watch?v=TBdc4esTXUY

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Pirâmide do sistema capitalista


O sistema capitalista cria a desigualdade entre os homens. Contudo, interessante observar que essa desigualdade servirá para retroalimentar o próprio capitalismo, já que este é fundado na exploração do homem pelo homem. A desigualdade é proposital, porque é construída. E é construída porque é necessária ao sistema capitalista. E este dela necessita porque tem na exploração o seu mecanismo principal.

Tudo isso não é racional. Mas, quem disse que o homem é racional? (Nietzsche)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Livro À mão esquerda, de Fausto Wolff

  

     Acabei de ler um dos melhores livros possíveis, de um dos meus autores preferidos (o melhor escritor brasileiro) - Fausto Wolff.

     O exemplar que eu tenho é da editora Leitura, de 1996, parece-me que outras editoras já editaram o livro. São 496 páginas de pura genialidade. Não se trata daquela genialidade às vezes chata, às vezes incompreensível - trata-se de genialidade com cultura, inteligência e muito senso de humor. É difícil falar de Fausto Wolff, pessoa e escritor muito original, falecido no Rio de Janeiro em 05/09/2008. Comunista humanista, sempre com textos de viés filosófico, seguia a linha de Brecht e Beckett, ou seja, daqueles pensadores preocupados com o descortinamento da realidade que se esconde por trás do fato comum. Gente que não é "mais do mesmo".

     "À mão esquerda" é uma ficção com muita cultura inteligente, mesclada com autobiografia, filosofia, humor, surrealismo... ou seja, é difícil fazer uma resenha desse livro. Para se ter uma idéia esse autor despreza aquela palavra que não existe, é horrível, mas todo mundo usa de boca cheia: "vitrine". Prefere a que existe na língua portuguesa, a adotada pela norma culta: "vitrina" (pág. 197), contudo, não tem pudores de xingar a classe dominante brasileira com vários "filhos-da-puta". É Fausto Wolff. Também é Fausto Wolff ter desafiado a Rede Globo. Coisa para poucos.

      Sem alguma cultura geral não se entende e não se gosta desse autor. Não é possível transitar entre Paulo Coelho e BBB e depois querer encarar um Fausto Wolff. Não dá certo. Não vai.

     Outra característica: gostava de frases de efeito, à la Nelson Rodrigues: "Se você é inteligente, talentoso e original perca as esperanças de ser aceito", ou, "O homem é filho do medo, não é ele mesmo, ensinam-lhe a ter medo e ele aprende", ou, "A elite brasileira só não extermina os pobres definitivamente porque vai faltar empregadas domésticas" (por falar em empregada doméstica, um dia ainda faço um artigo sobre essa mentalidade coronelesca do séc. XIX - quando gostaríamos de ter sido colônia da França -  refiro-me a essa nova imbecilidade brasileira: chamar emprega doméstica de "secretária". Pode explorar, pagar mal, desrespeitar, assediar moral e sexualmente, humilhar... pode fazer o escambau, mas tem que chamar de "secretária". Fica chique. Daqui a pouco essa sociedade volta para o séc. XVIII, se Deus quiser. Digo se Deus quiser, porque se continuar retroagindo no tempo, como está fazendo, um dia a sociedade brasileira chega na Renascença. Chamar de empregada doméstica e respeitar como ser humano, lembrando da dignidade da pessoa humana, é pedir demais para essa sociedade, não dá).

     Vou transcrever duas opiniões constantes na contracapa do livro:

     "Um romance denso, vigoroso, surpreendente. Concebido como uma polifonia, na qual diversas vozes se alternam em contraponto, exigiu do autor extraordinários recursos de maestria técnica. Seu leitmotiv é, obviamente, autobiográfico, mas extrapola esses limites. É uma composição que reúne o patético desvario de uma personalidade complexa a uma crítica social contundente de projeções mundiais. É regional e cosmopolita, contemporâneo e histórico. É Fausto e fausto. Traz em si uma tensão que pode ser chocante para almas delicadas, mas, de fato, como lamentou Mário de Andrade, de o movimento Modernista não haver conseguido, agarra a máscara do tempo e a esbofeteia" - Moacir Werneck de Castro.

     "Fausto Wolff escreveu o livro mais importante de sua geração" - Carlos Heitor Cony.

     Vale a pena transcrever, também, um pequeno trecho:

     "Já naquela primeira viagem à Dinamarca Pérsio (ou seja, ele mesmo, Fausto Wolff) ficou impressionado com a intimidade do povo com a cultura. Até então, no Brasil, mesmo os intelectuais, quando falavam de arte, passavam a impressão de que eram apenas ilustrados, transmitiam ao interlocutor uma lição decorada e não estavam absolutamente interessados na resposta. A conversa era feita de citações, não vinha da alma, do sofrimento, da alegria, da experiência pessoal. Com exceção do futebol e da música popular, a cultura no Brasil não parecia fazer parte da estrutura do homem, não estava ligada a ele intrinsecamente; era apenas um ornamento a ser exibido eventualmente; algo para se aplaudir, mas que em verdade não fazia parte da vida. Com exceção dos idiotas congênitos, era difícil encontrar em Copenhague alguém que não discutisse filosofia, política internacional, costumes, com a mesma desenvoltura com que no Brasil se discutia um gol de Pelé." (pág. 253).

     Como dizia Nelson Rodrigues: "os medíocres perderam a modéstia". Neste momento em que Paulo Coelho e José Sarney "acham" que são escritores, vamos lembrar que vale a pena para a alma conhecer Fausto Wolff e À mão esquerda.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Ex-menina de rua de SP estuda Medicina em Cuba





...
“Ir a Cuba foi minha maior conquista. Além de aprender sobre a medicina, aprendo sobre a vida, a importância dos valores. Antes de ir, sempre lia reportagens negativas sobre o país, mas quando cheguei lá, não foi isso que vi. Em Cuba, todos têm direito a educação, saúde, cultura, lazer e o básico pra sobreviver.

Li em muitas revistas que o Fidel Castro é um ditador, e descobri em Cuba, que ele é amado e idolatrado pelos cubanos. Escrevem que Cuba é o país da miséria. Mas de que tipo de miséria eles falam? Interpreto como miséria o que passei na infância. Em casa, no Brasil, não tinha água encanada, luz, comida.

Recordo que tinha dias em que eu, meu irmão e minha mãe não conseguíamos nos levantar da cama devido a fraqueza por falta de alimento. Tomávamos água doce pra esquecer a fome. Então, quando abro uma revista publicada no Brasil e nela está escrito que Cuba é um país miserável, eu me pergunto: se em Cuba, onde todos têm os direitos a saúde, educação, moradia, lazer e alimento, como podemos denominar o Brasil?”
...
                                                                                                                         Gisele Antunes Rodrigues
Veja na íntegra essa história que a grande e prostituída mídia brasileira dificilmente irá contar:


PS: A criança abandonada da foto não é cubana, é do Brasil neoliberal:

http://www.blogpaedia.com.br/2008/10/o-nosso-amor-pelas-crianas-abandonadas.html

Deficiente (Renata Villela)

Deficiente

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.

"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria. E só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois
"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.

                                                                                                                                         (Renata Villela)

sábado, 21 de maio de 2011

Da série Notícias do Brasil (sem os comentários da Globo, Aliás, com os nossos).

"São Paulo é a sexta cidade com mais bilionários no mundo, superando cidades como Tóquio e Los Angeles, segundo a revista "Forbes".

De acordo com o levantamento, São Paulo tem 21 bilionários (como Antônio Ermírio de Moraes e Abilio Diniz), que, juntos, acumulam um patrimônio de US$ 85 bilhões - mais que o dobro de todos os bens e serviços produzidos no Uruguai no ano passado, por exemplo.

Pelos critérios da revista, o Rio de Janeiro aparece a seguir, com três (entre eles Eike Batista, a pessoa mais rica do país), e Londres abriga dois bilionários brasileiros.

No ano passado, São Paulo aparecia com 14 bilionários no ranking da "Forbes", com uma fortuna somada de US$ 58 bilhões."

(Folha de São Paulo 21/05/2011)
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/918854-sao-paulo-e-a-6-cidade-em-numero-de-bilionarios.shtml

Conclusão: o apartheid social neste país aumentou. Os acumuladores de capital subiram em um ano de U$ 58 bilhões para U$ 85 bilhões. Os ricos ficaram mais ricos e os miseráveis mais miseráveis. Bilionários em um país sem educação, saúde, cultura, lazer... Isso em um país onde crianças se prostituem para comer. Bilionários em um país sem verbas para medicamentos, merenda escolar, salário digno para professores...
Niguém anda nas ruas do Rio ou São Paulo nesta hora da noite sem medo da violência. O povo brasileiro paga 40% do produz em tributos para viver com medo da violência, do desemprego, da inflação, de balas perdidas...

Os brasileiros são servos mansos da exploração. Produzem riquezas que vão ser acumuladas por uma minoria que debocha dos seus servos domesticados. Alguns vão até sentir uma pontinha de indignação, que vai durar até o próximo capítulo da novela das oito.

Tem que assistir muito BBB para "achar" isso natural.

Abraços socialistas.

Da série Notícias do Brasil (sem os comentários da Globo. Aliás, com os nossos)


"Bombeiros são presos no Rio depois de protestar por melhores salários"

Na semana passada todos os jornais do Rio noticiaram a prisão de bombeiros militares que foram presos depois de protestar  por melhores salários e melhores condições de trabalho.
E continua a falácia de que existe liberdade no Brasil capitalista-neoliberal...

Sobre a mediocridade e algumas citações



A ditatura da mediocridade é construída. Não é natural. Um dos aportes que a sustentam é fazer com que a massa pense que a mediocridade é natural, assim, obviamente, nunca a questionam.

A imbecilidade hoje é fruto de um esquema que remonta ao início dos anos 80, quando os donos do mundo resolveram tornar os homens robotizados, sintéticos, para que não refletissem sobre o comportamento alienado para consumir, consumir e consumir. A não-reflexão é supedâneo para o neoliberalismo globalizante. Nesse sentido ver: "Como a Picaretagem Conquistou o Mundo - Equívocos da Modernidade", de Francis Wheen, ed. Record, e "Resistência", de Ernesto Sabato, ed. Cia. das Letras.

Hoje é comum ver pessoas com dois, três empregos... e vários celulares, várias TVs de plasma e um monte de entulhos. Tudo isso sem viver. É comum ver o homem "correndo muito atrás... de nada", como diz Zigmunt Baumamm.

E para que mediocrizar? Para mais explorar. Massas alienadas não questionam toda essa exploração econômico-social em que vivemos nesses tempos de globalização neoliberal.

Mas, tudo isso tem conseqüências. Sobre o mal-estar social de quem se coloca em posição reflexiva, questionadora, ver o excelente livrinho "Como me tornei estúpido", de Martin Page, ed. Rocco.

Aos que acham que "tá tudo normal", saibam que estão errados - estamos no fundo do poço da imbecilização (ver Alain Minc, Erich Fromm...). E não foi sempre assim não, o homem renascentista era bem melhor que essa porcaria que se diz humano hoje. Saramago diz que se o homem continuar assim, em breve voltará a grunhir.

O meio da imbecilização é o senso-comum, a cultura do lixo. Sua antítese - a Filosofia, o questionamento.

No Brasil a imbecilização é mais grave porque tivemos 20 anos de ditadura militar que roubou a cultura e identidade nacional desse povo, como diz meu autor preferido, Fausto Wolff.

Esse é um momento nojento, o homem hoje é alguém que sabe dizer "oi" no início da conversa e "tchau" no fim (no meio tome BBB, novelas, futebol e outros lixos).

O refúgio inteligente e cultural é para poucos, e quem o faz, o faz solitariamente.

É o jeito.

A difícil passagem do tecnozóico ao ecozóico (texto de Leonardo Boff)


"As grandes crises comportam grandes decisões. Há decisões que significam vida ou morte para certas sociedades, para uma instituição ou para uma pessoa.


A situação atual é a de um doente ao qual o médico diz: ou você controla suas altas taxas de colesterol e sua pressão ou vai enfrentar o pior. Você escolhe.

A humanidade como um todo está com febre e doente e deve decidir: ou continuar com seu ritmo alucinado de produção e consumo, sempre garantindo a subida do PIB nacional e mundial, ritmo altamente hostil à vida, ou enfrentar dentro de pouco as reações do sistema-Terra que já deu sinais claros de estresse global. Não tememos um cataclisma nuclear, não impossível mas improvável, o que significaria o fim da espécie humana. Receamos isto sim, como muitos cientistas advertem, por uma mudança repentina, abrupta e dramática do clima que, rapidamente, dizimaria muitíssimas espécies e colocaria sob grande risco a nossa civilização.

Isso não é uma fantasia sinistra. Já o relatório do IPPC de 2001 acenava para esta eventualidade. O relatório da U.S. National Academy of Sciences de 2002 afirmava “que recentes evidências científicas apontam para a presença de uma acelerada e vasta mudança climática; o novo paradigma de uma abrupta mudança no sistema climático está bem estabelecida pela pesquisa já há 10 anos, no entanto, este conhecimento é pouco difundido e parcamente tomado em conta pelos analistas sociais”. Richard Alley, presidente da U.S. National Academy of Sciences Committee on Abrupt Climate Change com seu grupo comprovou que, ao sair da última idade do gelo, há 11 mil anos, o clima da Terra subiu 9 graus em apenas 10 anos (dados em R.W.Miller, Global Climate Disruption and Social Justice, N.Y 2010). Se isso ocorrer consosco estaríamos enfrentando uma hecatombe ambiental e social de conseqüências dramáticas.

O que está, finalmente, em jogo com a questão climática? Estão em jogo duas práticas em relação à Terra e a seus recursos limitados. Elas fundam duas eras de nossa história: a tecnozóica e a ecozóica.
Na tecnozóica se utiliza um potente instrumental, inventado nos últimos séculos, a tecno-ciência, com a qual se explora de forma sistemática e com cada vez mais rapidez todos os recursos, especialmente em benefício para as minorias mundiais, deixando à margem grande parte da humanidade. Praticamente toda a Terra foi ocupada e explorada. Ela ficou saturada de toxinas, elementos químicos e gases de efeito estufa a ponto de perder sua capacidade de metabolizá-los. O sintoma mais claro desta sua incapacidade é a febre que tomou conta do Planeta.


Na ecozóica se considera a Terra dentro da evolução. Por mais de 13,7 bilhões de anos o universo existe e está em expansão, empurrado pela insondável energia de fundo e pelas quatro interações que sustentam e alimentam cada coisa. Ele constitui um processo unitário, diverso e complexo que produziu as grandes estrelas vermelhas, as galáxias, o nosso Sol, os planetas e nossa Terra. Gerou também as primeiras células vivas, os organismos multicelulares, a proliferação da fauna e da flora, a autoconsciência humana pela qual nos sentimos parte do Todo e responsáveis pelo Planeta. Todo este processo envolve a Terra até o momento atual. Respeitado em sua dinâmica, ele permite a Terra manter sua vitalidade e seu equilíbrio.


O futuro se joga entre aqueles comprometidos com a era tecnozóica com os riscos que encerra e aqueles que assumiram a ecozóica, lutam para manter os ritmos da Terra, produzem e consomem dentro de seus limites e que colocam a perpetuidade e o bem-estar humano e da comunidade terrestre como seu principal interesse.
Se não fizermos esta passagem dificilmente escaparemos do abismo, já cavado lá na frente."

(Leonardo Boff)

Na parede de um botequim de Madri...

Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar.
Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa:
É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem.
Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.

(Texto retirado da página de perfil da comunidade no orkut: Eduardo Galeano.
 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=113581)

Os Indiferentes (texto de Antonio Gramsci)



"Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os "apenas homens", estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.
Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes."

                                                                         (Antonio Gramsci)


domingo, 15 de maio de 2011

A fraude do Estado Capitalista



Constituição Federal de 1988
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais...

IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social...

Uma Constituição funda um Estado. A República Federativa do Brasil foi fundada em 05/10/1988 (antes nem tinha esse nome). Quando fundada fez-se um pacto social (entre o Estado Capitalista e seus trabalhadores)  no qual o constituinte mandava que o Estado Capitalista pagasse aos trabalhadores um salário mínimo capaz de atender os custos com sua moradia, alimentação, educação, saúde, lazer... Todo mundo topou e Ulysses Guimarães promulgou a nova Constituição e começou o jogo...

Os trabalhadores fizeram sua parte. Trabalharam 44 horas semanais, pagaram seus tributos, deram do seu suor, cumpriram todas as regras.

Até hoje, 22 anos depois, o Estado Capitalista não cumpriu a sua parte. Paga um salário de fome aos explorados trabalhadores.

Contudo, o Estado Capitalista bateu recorde de arrecadação de tributos em 2010 (O globo 22/01/2011) com arrecadações mensais superiores a 60 bilhões de reais, com novo recorde anunciado para 2011; pagou a dívida externa várias vezes para o FMI; criou superávit primário; criou o PROER para ajudar bancos falidos de banqueiros ricos; quer criar o Fundo Soberano (para injetar dinheiro do trabalhador – que é o único que gera riqueza no país – no mercado financeiro quando vier a próxima crise capitalista que eles sabem que vai vir)...

É impressão minha, ou o Estado Capitalista é uma fraude?

A Servidão Moderna



Documentário francês sobre a escravidão em que vivemos, na qual o senhor é o sistema capitalista. Comentário do site oficial: "A servidão moderna é uma escravidão voluntária, consentida pela multidão de escravos que se arrastam pela face da terra. Eles mesmos compram as mercadorias que os escravizam cada vez mais. Eles mesmos procuram um trabalho cada vez mais alienante que lhes é dado, se demonstram estar suficientemente domados. Eles mesmos escolhem os mestres a quem deverão servir. Para que esta tragédia absurda possa ter lugar, foi necessário tirar desta classe a consciência de sua exploração e de sua alienação. Aí está a estranha modernidade da nossa época. Contrariamente aos escravos da antiguidade, aos servos da Idade média e aos operários das primeiras revoluções industriais, estamos hoje em dia frente a uma classe totalmente escravizada, só que não sabe, ou melhor, não quer saber. Eles ignoram o que deveria ser a única e legítima reação dos explorados. Aceitam sem discutir a vida lamentável que se planejou para eles. A renúncia e a resignação são a fonte de sua desgraça.”

Veja o filme:

http://www.youtube.com/watch?v=nJCW6AbCoWQ

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O analfabeto político


Todos conhecem este texto de Bertold Brecht, mas nosso blog também vai postá-lo:

"O analfabeto político

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo." 
                                                                                                                                       (Bertold Brecht)

No Brasil o analfabeto político elegeu um palhaço sem graça para representá-lo no Poder Legislativo como deputado federal. Só falta, agora, o analfabeto político querer melhorias sociais...

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Texto do livro “Neoliberalismo: a Tragédia do nosso Tempo”, de Manoel L. Malaguti



Texto do livro “Neoliberalismo: a Tragédia do nosso Tempo”:

“Há mais de dez anos a humanidade vive uma tragédia: a hegemonia política e ideológica do Neoliberalismo. Hoje, poucas regiões do mundo estão livres das conseqüências desastrosas da implementação do ideário Neoliberal. No Terceiro Mundo, por exemplo, dois são os objetivos básicos do moderno Liberalismo. O primeiro deles é a fragilização do Estado Nacional, ao menos na medida em que o setor público represente limites à restrita integração dos países subdesenvolvidos à lógica da Globalização financeira e especulativa. O segundo é a destruição das mais variadas expressões dos movimentos populares de resistência política aos desígnios dos mercados e da economia desregulada (em particular, os sindicatos).

Nos países desenvolvidos, por sua vez, são, fundamentalmente, os mesmos. No entanto, são bem distintas as conseqüências e as possibilidades de implementação do projeto Neoliberal: com uma classe trabalhadora organizada e protegida por um efetivo Estado de-Bem-Estar, os limites do liberalismo aparecem mais rapidamente. As resistências são de peso e a opinião pública (esclarecida) exige satisfações. De todas as formas, seja no campo das idéias, seja no das políticas econômicas, as políticas neoliberais constituem a tragédia do nosso tempo. Onde for que elas se instaurem, surge ou cresce a miséria, a degradação econômica, a desesperança, a apatia e o desespero.

Não podemos deixar de ressaltar, porém, o que chamamos de conseqüências complementares das políticas Neoliberais: o individualismo e o egoísmo exacerbados. Estes são fenômenos perversos que conquistam pessoas de todas as idades, reproduzindo-se e difundindo-se por uma espécie de mecanismo automático, por um tipo de inércia geracional. Mas de que forma, perguntamos, essa patologia sociopsicológica complementa as políticas liberais? Resposta: através da indução à passividade, à segurança dos lares e à indiferença. Na medida em que assim procede, este problema de caráter colabora na manutenção do fosso social que separa integrados e marginais, os que lucram e os que perdem com as atuais regras do jogo. Assim fazendo, torna mais fácil subjugar os rebeldes, conter as manifestações conscientes de repúdio, enfraquecer a sociedade civil e o tecido social, privatizar o público (que é ou era de todos) etc. no mais, o individualismo liberal (egoísta) já teve a sua chance. Mas, como a dos povos é curta, esquecemos tanto as suas conseqüências tradicionais quanto o fato de que a aplicação do ideário liberal conduziu a humanidade a duas guerras e à maior crise estrutural da história do capitalismo (1929).”

Manoel L. Malaguti
Doutor em Economia pela Université de Picardie/França

http://jogligidel.tripod.com/id56.html

Nota: Este texto é anterior à crise de 2008. Hoje a tragédia neoliberal revela-se bem maior.

domingo, 17 de abril de 2011

Livro revela que apenas 1 de cada 20 brasileiros é dono de alguma propriedade geradora de renda



Livro revela que apenas 1 de cada 20 brasileiros é dono de alguma propriedade geradora de renda.
Coordenação: Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

http://zequinhabarreto.org.br/?p=9497

Sendo por natureza um sistema que implanta uma ideologia de competivismo, consumismo e individualismo não é difícil enxergar os dois grandes ramos de conseqüências do neoliberalismo capitalista.

O primeiro - a pobreza material da maioria. E de forma injusta. Porque, na verdade, quem gerou a riqueza foi o trabalhador enquanto o capitalista apenas contabiliza, calcula ou faz o diabo que for... o problema é que quem gerou a riqueza dela não participa. Esse é o fato.

O segundo – toda a gama de resultados no campo da psicologia social, coletiva. Viver em um sistema injusto, aceitando-o, é aceitar que podemos ser injustos é aceitar que podemos ser sub-humanos.

São as conseqüências reflexas, surgidas de forma oblíquas, complementares das políticas Neoliberais: o individualismo e o egoísmo exacerbados.

Daí todo esse mundo doente a que assistimos e a ele nos submetemos. Aceitar um mundo que é errado é aceitar mover-se dentro desse mundo, identificando-se com ele.

Onde impera o “deus” mercado/capital não há espaço para valores da alma. Onde a honra, a dignidade, a fraternidade, o altruísmo...?

Hoje quando um pai não quer mais um filho, joga-o pela janela como se joga um saco de biscoito vazio. Porque essas relações (sub)humanas dão-se em patamares “líquidos”, como diz Baumann. Não há valores morais – só financeiros.

Mas, como dizem, “um novo mundo é possível”.

Concordo. Só que tem que ser construído. E começa pela conscientização política.

Abraços socialistas.

"Os demônios descem do norte" e a praga diabólica de igrejas e pastores neopentecostais.




Seguindo a melhor linha de pensamento social, aquela que diz que tudo na sociedade é construído propositalmente, tudo é produto cultural humano, inventado pelo homem, nada é "dado", por vontade de Deus ou existe por acaso, como acontece na natureza, vamos refletir sobre como a sociedade brasileira foi tomada pela peste do neopentecostalismo.

O neopentecostalismo é aquele seguimento que envergonha os religiosos e dão razão aos ateus para não acreditarem em Deus. Pastores analfabetos, pilantras que enriquecem rapidamente, de comportamento boçal, fazem a melhor contrapropaganda da religiosidade humana. Debocham de Deus de uma forma que o diabo não conseguiu fazer.

Reproduzimos abaixo um artigo da Folha de São Paulo, logo em seguida voltamos a falar:

“Folha de São Paulo, 03/12/2009

O primeiro milagre do "heliocentrismo".

Hélio Schwartsman

Eu, Claudio Angelo, editor de Ciência da Folha, e Rafael Garcia, repórter do jornal, decidimos abrir uma igreja. Com o auxílio técnico do departamento
Jurídico da Folha e do escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de  Figueiredo Gasparian Advogados, fizemo-lo. Precisamos apenas de R$ 418,42 em taxas e emolumentos e de cinco dias úteis (não consecutivos) . É tudo muito simples.
Não existem requisitos teológicos ou doutrinários para criar um culto  religioso.
Tampouco se exige número mínimo de fiéis.  Com o registro da Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio e seu  CNPJ, pudemos abrir uma conta bancária na qual realizamos aplicações  financeiras isentas de IR e IOF. Mas esses não são os únicos benefícios  fiscais da empreitada. Nos termos do artigo 150 da Constituição, templos de  qualquer culto são imunes a todos os impostos que incidam sobre o patrimônio, a renda ou* os serviços relacionados com suas finalidades essenciais, as quais são definidas  pelos próprios criadores. Ou seja, se levássemos a coisa adiante, poderíamos nos  livrar de IPVA, IPTU, ISS, ITR e vários outros "Is" de bens colocados em nome da  igreja.
Há também vantagens extratributárias. Os templos são livres para se organizarem como bem entenderem, o que inclui escolher seus sacerdotes. Uma  vez ungidos, eles adquirem privilégios como a isenção do serviço militar  obrigatório (já sagrei meus filhos Ian e David ministros religiosos) e direito a prisão especial.*

Alguns curiosos nomes de "igrejas" no Brasil.

- Igreja Automotiva do Fogo Sagrado
- Igreja Batista A Paz do Senhor e Anti-Globo
- Associação Evangélica Fiel Até Debaixo D'Água
- Cruzada Evangélica do Pastor Waldevino Coelho, a Sumidade
- Igreja Dekanthalabassi
- Igreja Cristo é Show
- Igreja Caverna de Adulão
- Igreja E.T.Q.B (Eu Também Quero a Bênção)
- Igreja Evangélica Bola de Neve
- Igreja Evangélica Adão é o Homem
- Igreja Evangélica Batista Barranco Sagrado
- Igreja Pentecostal Jesus Vem, Você Fica
- Igreja Evangélica Pentecostal Cuspe de Cristo
- Assembléia de Deus Batista A Cobrinha de Moisés
- "Igreija" Evangélica Muçulmana Javé é Pai
- Igreja Abre-te-Sésamo
- Igreja Batista Floresta Encantada
- Igreja Evangélica Batalha dos Deuses
- Igreja Evangélica do Pastor Paulo Andrade, O Homem que Vive sem Pecados
- Igreja Pentecostal Marilyn Monroe
- Igreja Quadrangular O Mundo É Redondo

Rir ou chorar? Qual a intenção, origem e motivação por trás de tanta "diversidade"? 
Sempre nos debruçamos sobre essa bizarrice contemporânea, e intuitivamente sabíamos que algo de muito podre havia por trás de tanta loucura. Foi-nos explicado pelo nosso amigo Wander. E é simples, muito simples: Quando o movimento da Teologia da Libertação começou a crescer, rapidamente o governo americano pensou nesse plano diabólico. Subvencionou-se igrejas neopentecostais de apelos bizonhos a fim de espalhá-las pela América do Sul e desviar o foco dos povos a fim de que não houvesse espaço para os questionamentos sociais trazidos pela Teologia da Libertação.

Edir Macedo, Silas Malafaia e companhia são apenas peças de uma engrenagem concebida em Washington.
Eu sabia que isso não era à toa. Seria demais.

Como dizia Fausto Wolff, o mal mais uma vez venceu - coisas deste mundo. A Teologia da Libertação encontra guarida, hoje, apenas entre uns poucos que preferem o caminho da racionalidade humana. Que questionam. A massa inculta foi tomada por essas igrejas diabólicas que alieniam e tornam as visões de mundo dessas pessoas verdadeiras estultices patológicas.

O papa João Paulo II, um pequeno homem, nesse enredo, não perdeu tempo e excomungou Leonardo Boff, um grande homem, por sua militância na Teologia da Libertação. A massa continua alienada e se deixando explorar sem questionar.  

A fonte da explicação dessa onda neopentecostal de massas hipnotizadas, sem recursos de questionamento e pastores vigaristas que debocham de Deus, do homem e da vida, se encontra no livro "Os Demônios Descem do Norte", de Delcio Monteiro de Lima, editora Francisco Alves.

A quem interessa toda essa passividade em relação aos problemas graves trazidos pelo neoliberalismo?



Nosso sistema capitalista ainda tem bancos falidos de banqueiros ricos que deram golpes de bilhões na sociedade. É o caso dos Bancos Econômico, Bamerindus, Nacional, Marka, Fonte Cidam, Opportunity...

Enquanto isso as crianças deste país se prostituem para comer. Enquanto isso crianças reviram lixo para comer.

Não fosse a alienação que tomou conta do povo deste país no máximo já teríamos feito a revolução popular necessária e no mínimo já teríamos estabelecido instrumentos de renovação social no sentido de minimamente minorarmos o abismo social, o apartheid social que nos envergonha (envergonha a nós, os indignados).

Fere a razão humana, na perspectiva de quem minimamente se debruça sobre a filosofia, de que tudo isso a que assistimos deva ser mesmo do jeito que é. Aceitar esse momento da ideologia rasa do neoliberalismo, que torna as pessoas automatizadas mentalmente, é como diz nosso amigo Maruivermelho, "dose prá leão".

Fala-se em evolução tecnológica, bolsa, superávit comercial e financeiro, PIB... sem enxergar aquelas crianças nas ruas se prostituindo para comer, como se não existissem. Isso é manter um padrão mental autômato, de quem não age nem pensa por conta própria. Mero repetidor de ações.

Há poucos anos faleceu o filósofo francês Jean Baudrillard. Foi o grande teórico da tese de que a mída, nos países capitalistas, faz com que o povo viva uma realidade virtual, mentirosa, alienante (midiaticamente autômata). Essa consciência coletiva divorciada da realidade real retira das pessoas os recursos de questionamento. A visão de mundo fica empobrecida.

Baumann, no mesmo diapasão, fala da vida "líquida" da modernidade. As relações intersubjetivas distanciadas da realidade real são despojadas de conteúdo. Não há mais sensibilidade social. A regra é a apatia com relação ao "outro".

A quem interessa uma coletividade sem recursos de questionamento? Autômata? Líquida?

A quem interessa toda essa passividade em relação aos problemas graves trazidos pelo neoliberalismo como destruição do meio-ambiente, monetarização da vida, enxergamento do outro como "coisa"? A quem interessa toda essa insensibilidade social?

Um doce para quem acertar.

Como diz Leonardo Boff, um dos maiores pensadores do Brasil e do mundo - "O capitalismo é incompatível com a vida".

Abraços socialistas.

sábado, 9 de abril de 2011

Da série Notícias do Brasil (sem os comentários da Globo, Aliás, com os nossos).

"Campanha contra armas ganha fôlego" (O Globo, 10/04/2011)
http://oglobo.globo.com

Teve um maluco que matou 12 crianças em uma escola. Por causa disso a sociedade agora debate contra as armas. Não é a mesma sociedade que votou no referendo a favor das armas em 2005?

Quando votou a favor das armas, essa sociedade não pensou que um maluco podia comprar uma arma, entrar numa escola e matar 12 crianças?

É impressão minha ou essa sociedade é tonta de verdade?

quinta-feira, 24 de março de 2011

Onde estão os dinossauros?



Extinguiram-se?

Vivemos uma era de mau gosto, extremo mau gosto. Se o imbecil, com rostinho bonitinho fala alguma asneira na mídia, vira ídolo. Abri o Jornal "O Dia", do Rio de Janeiro, hoje na net. Deu vontade de vomitar. Dezenas de notícias, na página principal, envolvendo jogador de futebol, integrante de BBB, artista global, o escambau. E olha que Saramago já advertiu que voltaremos a grunhir se continuarmos assim...

Sempre li, em jornais e revistas, gente que parece que está sendo extinta. Fausto Wolff, Celso Albuquerque Duvivier de Mello, Darcy Ribeiro... Hoje Leandro Konder está com alzheimer, acho que não escreve mais. Sobrou Leonardo Boff, Emir Sader, Frei Betto, e mais quem, cara-pálida? No post de abertura de nosso blog eu disse que abriríamos espaço para essa gente boa. Quando o texto for de um desses pensadores nacionais eu o colocarei entre aspas e mencionarei a fonte, o autor.

De algum tempo quem mais vende em literatura neste país é Paulo Coelho. Não é para menos, um povo idiotizado desse leria o que mais? Platão, por acaso? Ah, tem Harry Porter também.

Esse troço todo é armação. Eu sempre repito isso. Com a globalização o poder econômico toma o lugar do poder político, extinguem-se os ideais e a auto-determinação dos povos, abrem-se novos mercados para mais lucrar e idiotiza-se para mais fazer consumidores autômatos. Quando se vê uma capa de jornal dessa que foi mencionada, não é porque fazem sucesso "em si" essa gente, não é porque essa gente tenha talento. É para formar alienados mesmo, uma massa que vai deixar-se explorar ao máximo, consumirá porcarias, e votará mal, muito mal.

Leonardo Boff e demais humanistas brasileiros não aparecem em Globo, em Veja. Há um silêncio dos intelectuais, hoje no Brasil, propositadamente fabricado. Há uma extinção de pensadores em parte pela era medíocre em que vivemos e em parte pelo silêncio fabricado pela mídia. Sempre que falo de Boff lembro-me do papa João Paulo II e do atual, Bento XVI, excomungando-o por conta da Teologia da Libertação. Parece piada, junta os dois papas e não dá uma parte do grande pensador humanista brasileiro. Adoro repetir isto.

Mas, eu ia dizendo que os dinossauros estão em extinção. Não que eu seja velho. É que se conhece cultura lendo História. E a gente percebe em uma leitura atenta que a sociedade brasileira se torna cada dia mais acéfala. Um meio nihilista culturalmente como este de hoje não é campo propício para surgimento de novos pensadores. Morrem os mais velhos e fica nada. "Quem for inteligente, talentoso e original perca as chances de ser aceito", dizia F. Wolff. Por isso a opção pelo "ser esperto e se dar bem". E os dinossauros vão se extinguindo.

Da série Notícias do Brasil (sem os comentários da Globo. Aliás, com os nossos)

Lucro da Brasil Foods cresce 125% em 2010.
(A Folha de São Paulo, 25/03/2011)

A imprensa neste país desde o golpe militar de 64 tornou-se uma prostituta para o poder. Seja ele qual for, o poder que estiver de plantão, é ele mesmo que vai.

Por acaso este país infeliz teve 125% de melhoria em saúde, educação? Tirou-se 125% de crianças da pobreza, da fome, do crime?

Então qual o motivo da festa da notícia?

domingo, 20 de março de 2011

Passeio Socrático


"Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”

A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”

Frei Betto